Por que continuar vacinando contra a poliomielite?

Iniciando uma nova série (ou continuando aquela de muito tempo atrás), hoje falaremos sobre a vacinação contra a poliomielite.

Em agosto de 2012, eu fiz um post falando sobre a mudança dos tipos de vacinas que seriam ofertadas pelo Programa Nacional de Imunização (PNI), que foi justamente a introdução da vacina inativada (também conhecida como SALK, em homenagem ao seu desenvolvedor).

Porém, nem mesmo nos meus piores sonhos eu poderia imaginar que um dia precisaria reafirmar a necessidade da continuidade da vacinação. Mesmo antes do início da pandemia de COVID-19, os índices de vacinação vinham caindo e foram caindo, caindo, até chegarmos no menor patamar da última década.

Temos HOJE, na Região Metropolitana de Campinas, 72,22% de cobertura vacinal com o esquema primário contra poliomielite (realizado com 2, 4, 6 e 15 meses de idade) e 58,49% de cobertura vacinal aos 4 anos de idade (segundo reforço).

Vamos começar do princípio: O QUE É A POLIOMIELITE (e aproveitar que o blog me permite escrever mais do que o Instagram)?

A poliomielite é uma doença viral, causada pelo poliovírus, que gosta muito, mas muito mesmo, das células do Sistema Nervoso. A maioria das pessoas que entra em contato com o poliovírus irá desenvolver uma forma leve, bem parecida com uma Síndrome Gripal (tosse, coriza, febre, espirros… lembra alguém?). Porém, 1% dos infectados irá evoluir para uma paralisia flácida aguda, devido à destruição dos neurônios motores pelo vírus.

1% parece pouco, né?

Mas são muitas e muitas pessoas, quando paramos para lembrar que é um vírus de alta taxa de transmissão. E estamos falando de pessoas que ficaram com sequelas para toda a vida, dependentes de muletas, cadeira de rodas e, quando o poliovírus atingia a musculatura responsável pela respiração, pessoas que ficaram dependentes de respiradores artificiais, como o “pulmão de aço” mostrado na foto.

A primeira vacina contra poliomielite foi criada por Jonas Salk (VIP) e foi disponibilizada para uso em 1955. Em seguida, Albert Sabin anunciou a criação da vacina oral contra poliomielite, contendo vírus vivo atenuado (VOP).

Por ser de mais fácil aplicação, armazenagem e de menor custo, a vacina de Albert Sabin foi a escolhida para uso em campanhas pelo mundo e para ser usada no nosso PNI. O primeiro calendário básico de vacinação, datado de 1977, continha a VOP, a DPT, a BCG e a vacina contra sarampo (falaremos de todas nos próximos posts).

Então, com os nossos esforços, o último caso registrado no Brasil data de 1989! E recebemos o Certificado de Erradicação da Poliomielite em 1994 pela OPAS/OMS. Mas isso não significa que podemos baixar a nossa guarda.

Especialidades pediátricas

Photo by CDC on Pexels.com

Da mesma forma que acontece com a “medicina de adulto”, a “medicina de criança” também possui suas especialidades.

Conhecidas como Áreas de Atuação em Pediatria (e reconhecidas pela Sociedade Brasileira de Pediatria e Comissão Nacional de Residência Médica), são anos adicionais além da residência de Pediatria, que preparam o pediatra para diagnosticar, tratar e acompanhar patologias de sistemas específicos.

São elas:

  • Alergia e Imunologia Pediátrica
  • Cardiologia Pediátrica
  • Emergência Pediátrica
  • Endocrinologia Pediátrica
  • Gastroenterologia Pediátrica
  • Hebiatria (Adolescentes)
  • Hematologia e Hemoterapia Pediátrica
  • Infectologia Pediátrica
  • Neurologia Pediátrica
  • Nutrologia Pediátrica
  • Oncologia Pediátrica
  • Pneumologia Pediátrica
  • Reumatologia Pediátrica

Quem atende nessas áreas sempre é um PEDIATRA que optou por prosseguir seus estudos após os 3 anos de residência médica (até 2019, o programa era de 2 anos). Por isso sempre recomendo que a criança seja atendida por um especialista pediátrico – as características e as patologias da infância são diferentes da fase adulta e, muitas vezes, o tratamento também.

Você pode verificar a especialidade do médico que irá consultar no site do Conselho Federal de Medicina ou no CRM do seu estado (no meu caso, CREMESP), fazendo a busca pelo nome ou pelo CRM.

Introdução alimentar complementar

No último dia 23 de maio, fiz minha primeira live. Foi muito divertida, com direito a tudo o que pode acontecer quando se faz algo em casa (só faltou gato passando na frente da câmera), mas com o clima bem diferente de stories do Instagram ou de um simples post, porque foi possível interagir com quem estava assistindo e responder às perguntas e dúvidas que surgiam.

O tema foi escolhido previamente através de uma enquete no Instagram, com uma margem bem pequena de vantagem (o segundo tema era APLV, algo que gera muitas dúvidas e cria muitos mitos por aí – falarei dele em outra ocasião).

A introdução alimentar complementar (IA) sofreu várias mudanças na última década, frutos de resultados de pesquisas e estudos do desenvolvimento infantil. Antigamente (e nem é tão antigamente assim), iniciávamos a IA com sucos de frutas – que hoje são recomendados somente após 1 ano de idade e em quantidades limitadas – e a introdução de alimentos “salgados” era extremamente demorada.

Atualmente, seguindo as orientações da OMS, do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria, a IA deve ser iniciada a partir dos 6 meses de idade, quando já são observados os Sinais de Prontidão:

  • Sentar sem apoio;
  • Demonstrar interesse pelo alimento;
  • Diminuição do reflexo de protusão da língua.

Os Sinais de Prontidão são sinais indiretos da maturação dos diversos sistemas envolvidos na alimentação: com 6 meses, temos o amadurecimento do Sistema Nervoso Central (controle de tronco), do Sistema Digestório (maturação das enzimas digestivas) e do Sistema Imunológico, aproveitando a tal da janela imunológica, que ocorre entre o 4o e o 7o mês de vida da criança, sendo um período onde o organismo estaria mais tolerante à exposição de alérgenos alimentares.

A introdução alimentar pode ser realizada já com o almoço (!!), que chamamos de papa principal, tirando o nome “papa salgada”, pois não há adição de sal nos alimentos do bebê até completar 1 ano de idade. A primeira papa já deve conter os principais grupos alimentares, podendo ou não serem misturados para ofertar à criança (eu recomendo tentar oferecer separado, para que a criança sinta os diferentes sabores e texturas).

Porém, nunca podemos esquecer que, até fazer 1 ano de idade, o leite (materno ou fórmula) continua sendo o principal alimento da criança. Portanto, a IA não irá substituir o leite, mas complementá-lo, por isso não nos preocupamos se a quantidade ingerida nas primeiras vezes for pequena.

Outra coisa que caiu por terra foi o conceito de que determinados alimentos só podem ser introduzidos após 9 meses ou 1 ano de idade (a exceção fica por conta dos frutos do mar). Aproveitando o momento da janela imunológica, não há alimento proibido, podendo ser ofertados ovos, peixes, carne de porco, morango, kiwi, cereais…

O que precisamos ter na papa principal:

  • Carboidratos: cereais (aveia, arroz, trigo) ou tubérculos com alto teor de amido (batata, batata-doce, mandioca, mandioquinha, inhame, cará).
  • Leguminosas: feijão, grão de bico, ervilha, lentilha (deixados no remolho por 12 horas, com troca de água durante o período de remolho, para a redução dos fitatos).
  • Vegetais: verduras folhosas (couve, espinafre, escarola, brócolis, couve-flor), raízes (cenoura, beterraba).
  • Proteína: animal (ovo, peixe, carne de boi, frango, carne de porco) ou vegetal.
  • Óleos: azeite de oliva ou outro óleo vegetal.

A consistência inicial deve ser pastosa, mas não liquidificada, progredindo aos poucos até que, com 10-11 meses, a criança já esteja comendo a comidinha sólida, mas macia e com caldo, e, com 1 ano, esteja pronta para comer a comida da família.

Lembre-se sempre de oferecer ÁGUA assim que iniciar a introdução de qualquer alimento sólido, seja a papa principal ou frutas.

Calendário comparativo de vacinas

Falei sobre isso no Instagram (pra quem ainda não me segue, é só conferir @mamiped) e fez mais sucesso do que eu imaginava… então achei melhor reativar o blog para poder escrever melhor sobre o assunto.

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Vou deixar disponibilizado aqui a tabela comparativa de vacinas que fiz este fim de semana, porém, sempre lembrando que ela NÃO substitui uma consulta com o pediatra assistente da família (meus pacientes irão recebê-la nas consultas presenciais, junto com a explicação detalhada sobre cada tipo de vacina).

Essa tabela foi construída com informações disponíveis publicamente, portanto, pode ser redistribuída, só peço uma  menção para a página original.

As fontes pesquisadas seguem abaixo:

  1. Calendário vacinal SBIM criança [https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-crianca.pdf] acessado em 26/04/2019.

  2. Bula Synflorix [http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=6445712015&pIdAnexo=2753241] acessado em 26/04/2019.

  3. Vacina Rotavirus humano G1P[8] (atenuada) [http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=8393602015&pIdAnexo=2858137] acessado em 26/04/2019

  4. Bula Infanrix Hexa [http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=22999962016&pIdAnexo=3898360] acessado em 26/04/2019

  5. Bula Hexaxim [http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=22597222017&pIdAnexo=10283063] acessado em 26/04/2019

  6. Bula Prevenar 13 [http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=10025292013&pIdAnexo=1881834] acessado em 26/04/2019.

  7. Bula RotaTeq [http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=9854272015&pIdAnexo=2941389] acessado em 26/04/2019

  8. Bula Menveo [http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=21766932016&pIdAnexo=3808962] acessado em 26/04/2019

  9. Bula Nimenrix [https://www.pfizer.com.br/sites/g/files/g10044511/f/product_attachments/Nimenrix_PS.pdf] acessado em 26/04/2019

  10. Bula Bexsero [http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=21773882016&pIdAnexo=3809340] acessado em 26/04/2019

  11. Bula Priorix Tetra [http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=13709952016&pIdAnexo=3161206] acessado em 26/04/2019

  12. Bula Refortrix IPV [http://www.brlvacinas.com.br/Bulas/bl_refortrix-ipv_inj_gds09_l0785.pdf] acessado em 26/04/2019

  13. Agência Saúde [http://portalms.saude.gov.br/noticias/agencia-saude/42748-ministerio-da-saude-quer-vacinar-10-milhoes-de-jovens-e-adolescentes-contra-meningite-e-hpv] acessado em 26/04/2019

Laringite

Geralmente não falo desse tipo de doença em plena primavera, mas como o tempo anda doido, os vírus respiratórios estão na mesma onda, então, dividindo o pódio com a enterovirose, no ranking das doenças mais frequentes nos pronto-socorros, vem a laringite viral, tirando o sono dos pais.

Geralmente a laringite viral vem no período do outono-inverno, causada frequentemente pelo vírus parainfluenza (mas também pode ser causada pelo vírus sincicial respiratório – o mesmo da bronquiolite – , pelo metapneumovirus humano, adenovírus, influenza e pelo Micoplasma pneumoniae).

Os primeiros sintomas são aqueles de uma infecção viral – bem inespecíficos – coriza, tosse, febre baixa ou mesmo pode não haver febre. Em seguida, começa a tosse ladrante (popularmente conhecida como “tosse de cachorro”), evoluindo para o estridor (ruído inspiratório agudo) quando agitado ou mesmo em repouso. Em casos mais graves, pode vir com cansaço para respirar. Para o diagnóstico, não é necessária a realização de exames de imagem.

O tratamento depende dos sintomas; crianças com um quadro leve, sem cansaço, devem receber bastante líquido, nebulização com soro fisiológico aquecido e REPOUSO. Quando há cansaço, caracterizando insuficiência respiratória, deve ser realizada nebulização com adrenalina, além de oxigênio para crianças que estiverem com queda na saturação. Dose única de dexametasona intramuscular melhora os sintomas e reduz a necessidade de internação, podendo ser substituída pela dexametasona via oral em alguns casos (mas isso somente o pediatra poderá avaliar).

Em casos mais graves, pode ser necessária a intubação e a transferência para UTI, mas a maioria das crianças melhora em alguns dias, sem maiores problemas.

É sempre bom lembrar que, como são vários vírus que podem causar a laringite, ela não é uma doença que causa imunidade permanente, como a varicela. Ou seja, você pode ter laringite mais de uma vez em sua vida.

Falando sobre amamentação

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No último dia 16, tive a oportunidade de participar de um bate-papo sobre amamentação no Expo Mamãe, que aconteceu do dia 14 ao dia 17 de outubro no Expo D. Pedro, em Campinas.

Foi muito divertido e prazeiroso poder falar de um assunto que adoro junto com pessoas conhecidas e que falam a mesma linguagem. Estiveram presentes a enfermeira obstetra e consultora de amamentação Luciane Fernandes, Juliana Franco (Mãe da Joana e colunista do Campinas com Crianças) e Thalita Bernardes (Mamãe Felícia).

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No início, parte da conversa foi focada em mim e na Luciane, para os aspectos clínicos da amamentação e os benefícios do leite materno, assim como da livre demanda. Mas achei muito interessante como a conversa logo tomou o rumo do papel da mulher nisso tudo – em como a amamentação (assim como a maternidade) tem sido glamourizada nos últimos anos, de modo com que muitas mulheres se sintam obrigadas a amamentar seus filhos e até mesmo se considerem fracassadas por, seja lá qual motivo, não conseguirem amamentar.

Outro ponto fundamental foi a necessidade de informação sobre amamentação e como ela deve vir cedo, de preferência, antes do bebê nascer. Informação sobre aleitamento materno todos têm, mas pouco se fala sobre a amamentação em si. E quando a família deseja obter essa informação, não são todos que conseguem contatar os serviços de uma consultoria de amamentação.

Além do talk sobre amamentação, a Expo Mamãe também abordou outros assuntos distribuídos em diversos talks que aconteceram durante os dias do evento, como Parto, Empoderamento da Mulher, Empreendedorismo… pena que não deu para estar lá todos os dias. E espero que ano que vem tenha mais. 😀

Infecção urinária

Já ouviram falar no “revezamento de filho no pronto-socorro”? Quem tem mais de um filho já deve ter passado por essa situação.

E aqui, mesmo sendo filhas de mamãe pediatra, em várias ocasiões precisamos recorrer aos serviços de um pronto atendimento. No início do mês tivemos a apendicite da Fofa, que também gerou uma boa dose de ciúmes na Fofinha, incluindo a realização de um exame de urina I e uma cultura de urina assim que a irmã mais velha chegou em casa , porque a pequena reclamou de dor para fazer xixi (que passou assim que deixei a amostra no laboratório e lógico que veio normal).

Só que, pensando retrospectivamente, a Fofinha teve uma infecção urinária em outubro de 2016, motivo pelo qual realizamos controle por culturas seriadas, que sempre vieram negativas…

… até agora.

Exatas 3 semanas após a última cultura negativa, a Fofinha passou a reclamar de:

  • Dor para urinar (polaciúria)
  • Vontade de ir ao banheiro várias vezes (urgência miccional)
  • Dificuldade para urinar (disúria)
  • Perda de xixi na calcinha (incontinência urinária) – usamos, em 2 dias, TODO O ESTOQUE DA GAVETA DE CALCINHAS da menina. Quem já passou por um desfralde sabe que toda mãe e pai guarda uma boa quantidade de roupas de baixo dentro da gaveta.
  • E o xixi ficou bem, mas bem turvo.

Que são os sintomas mais presentes em pré-escolares e escolares.

A esses sintomas, em lactentes, somamos a FEBRE (que pode ser o único sintoma), ganho de peso e estatura insatisfatório, dor abdominal e vômitos.

Então lá foi a mãe e a Fofinha para o PS perto de casa. Chegando lá, a pediatra de plantão já pediu os exames de urina e fomos coletar. Claro que ela tinha urinado um pouco antes de entrarmos, então conseguimos coletar só uma amostrinha de 2ml, mas que já foi suficiente para mandar para o laboratório e esperar 2 horas pelo resultado.

Nessas duas horas, fomos 10 vezes ao banheiro, sendo duas delas para vomitar.

O diagnóstico é direcionado pelo exame clínico e pela história, mas a confirmação vem pela cultura de urina. Porém, como demora pelo menos 48 horas para sair o resultado, realizamos uma triagem com o exame do sedimento urinário, cuja amostra deve ser colhida em boas condições de limpeza. Em crianças desfraldadas, preferimos a coleta do jato médio, desprezando o primeiro jato de urina no vaso. Em crianças que usam fralda, podemos colher por saco coletor (com uma BOA higiene e trocas do saco a cada 30 minutos caso não haja xixi lá dentro) ou por cateterismo vesical. Também podemos colher a urina através da punção suprapúbica, mas é cada vez mais raro.

Como o resultado do sedimento urinário veio limítrofe (como sempre, na minha família…), mas os sintomas eram muito intensos, optamos por iniciar o tratamento com antibiótico e aguardar o resultado da cultura para ver se 1) tinha bactéria e 2) se a bactéria era sensível ao antibiótico escolhido, a cefalexina.

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48 horas depois, veio esse bichinho simpático aí. Com os critérios de aceitabilidade preenchidos (bacteriúria significativa: acima de 100.000 unidades formadoras de colônia/ml).

Com isso, mantivemos o antibiótico por 10 dias e faremos nova cultura 48 horas após o término do tratamento.

Agora não tem como fugir e vamos fazer a investigação morfofuncional do trato urinário. Ele está indicado para todas as crianças com episódios de infecção urinária, mas principalmente para as menores de 2 anos, de ambos os sexos, pela frequente associação de infecções urinárias e anomalias do trato urinário. Já temos um ultra-som normal e o próximo exame será a uretrocistografia miccional retrógrada, que é um RX contrastado da bexiga, para ver se há refluxo da urina em direção aos rins. Caso venha alterado, faremos o seguimento com o nefrologista pediátrico.

Apendicite

Como tudo neste blog, este post também foi inspirado pelos últimos acontecimentos aqui de casa.

Hoje estamos no  2o dia pós-operatório de apendicectomia na Fofa. Já estamos em casa, bem, a manha imperando já comendo melhor e tentando dar os primeiros passos sem ajuda. Mas ainda muitas pessoas ficam espantadas quando falo que a minha filha de 7 anos teve apendicite, pois a maioria acha que isso não é uma doença de crianças.

Para a surpresa geral, sim, apendicite é uma doença de crianças. A faixa etária de maior prevalência é da idade escolar (a partir dos 7 anos) até o adulto jovem, com maior incidência em meninos (mas pode dar em meninas também). Começa com aqueles famosos sintomas inespecíficos que têm cara de VIROSE, o que confunde muito:

  1. Dor abdominal – começa no umbigo (aí você pede pra mostrar com a mão onde dói e a criança massageia o umbigo e mostra a barriga inteira em movimentos circulares) e vai lentamente se localizando para o lado DIREITO, em região de fossa ilíaca direita.
  2. Febre
  3. Vômitos
  4. Falta de apetite.
  5. Alterações do hábito intestinal – pode dar uma diarréia ou prender o intestino.
  6. Dor para caminhar – pode mancar da perna direita, por irritação do músculo psoas, que passa bem embaixo do apêndice.

Fácil, né?

E o que é o apêndice?

O apêndice é um órgão vermiforme localizado no intestino grosso, cuja função é a produção de anticorpos por ter grande quantidade de tecido linfóide. A apendicite ocorre quando há inflamação do apêndice, geralmente por obstrução, e posterior infecção.

O tratamento quase sempre é cirúrgico (“quase” porque há alguns estudos sobre o tratamento conservador de apendicite grau I, mas… hm… eu prefiro o tratamento cirúrgico), com a retirada do apêndice, que pode ser feita por videolaparoscopia, quando são feitos 2 ou 3 furinhos para a entrada da câmera e das pinças para o procedimento, ou por via aberta, por um corte na região inferior direita da barriga.

A apendicite é classificada em graus, de acordo com sua evolução e gravidade:

Grau I: inflamação do apêndice, sem pus ou perfuração. Geralmente sem líquido livre em cavidade.
Grau II: inflamação com presença de exsudato fibrinoso (“pus”).
Grau III: infecção com necrose e abscesso (pus de verdade).
Grau IV: grau III + perfuração.

Em casa, começamos com uma dor abdominal difusa (sim, apontava o umbigo…), que doía muito quando eu apertava a barriga, mas que piorava com a descompressão brusca (ou Sinal de Blumberg), que é quando a gente aperta a barriga e tira a mão bruscamente. Isso é indicativo de irritação peritonial, que, quando localizado na região de fossa ilíaca direita, é um dos sinais de apendicite. Conforme as horas foram passando (porque isso aconteceu às 2h da manhã, ela não teve febre e não estava vomitando – então eu dei um analgésico e decidi esperar amanhecer. Claro que, se a dor não melhorasse nem um pouquinho com o analgésico, eu tinha corrido pro PS de madrugada mesmo), ela foi tendo dor até mesmo com tosse ou dando risada, o que já indicava uma piora gradual.

No PS, fomos fazer um ultra-som abdominal, que é o exame de escolha para esses casos. Claro que nada pode ser fácil, porque o apêndice estava escondido. Ao invés de seguir para a fossa ilíaca direita, o apêndice da minha filha subia para a goteira parieto-cólica (ou seja, pro flanco direito), ficando escondidinho e bem difícil de ser visto. Mas o radiologista era bom e… o exame deu inconclusivo. Limite superior da normalidade, 7mm, não-compressível, mas não dava pra jurar que era uma apendicite, ainda mais que a minha Fofa não tinha febre, nem vômitos.

Então fomos pra casa. Colhemos exames e veríamos o resultado pelo computador. Novamente, só fizemos isso porque sou pediatra e porque a Fofa estava BEM, embora com dor na barriga.

As horas se passaram, a dor foi aumentando… foi localizando à direita… o apetite foi minguando…

… então, na manhã seguinte, voltamos pro PS. Nem precisou repetir o ultra-som, já foi direto pra internação e logo fez a cirurgia. Como era grau I, foi feita por videolaparoscopia e, uma hora depois, já estava no quarto. Já jantou no mesmo dia e, no dia seguinte, viemos pra casa.

O pós-operatório é tranquilo: ficará em casa por 1 semana, em repouso relativo (pode andar um pouco, ir pro banheiro, brincar de massinha, de boneca). Semana que vem retornará pra escola, mas sem atividade física por 30 dias.

E chega de sustos este ano porque a galera aqui de casa não aguenta mais. 😀

 

Viajando com alérgico – Canadá

Este ano podemos dizer que estamos com rodinhas (ou asinhas) nos pés. Acho que nunca viajamos tanto assim com as crianças, até porque, enquanto a Fofa era pequena, faltava coragem (e grana… aliás, essa continua faltando, mas o trabalho do papai ajuda nas viagens) para sair de casa. Engraçado que, se formos comparar, a Fofinha é bem pior para se lidar do que a Fofa jamais foi.

A viagem de trabalho do papai, desta vez, nos levou para o Canadá, mais precisamente, para Cochrane, AB, perto de Calgary, terra dos caubóis canadenses. Viajamos bem na época do Calgary Stampede, que é uma festa típica, com rodeios, comidas, mosquitos e afins.

Como sempre, a viagem começa nos preparativos. Passaportes todos válidos, vistos americanos válidos (pois fizemos conexão nos EUA) e vistos canadenses válidos. Lembrando que começamos os preparativos antes da mudança da lei, que hoje permite que o brasileiro portador de visto americano válido possa entrar no Canadá somente com o ETA (eletronic travel authorization) – que é mais barato e dá pra fazer online.

Não temos mais chiadores crônicos nessa família feliz, mas como o seguro morreu de velho, nossa caixinha de remédios incluía a já conhecida “bombinha” de salbutamol (e receitas atualizadas em inglês e carta para uso da medicação também em inglês, como fiz na viagem para a Grécia), além do corticóide nasal, corticóide oral, soro fisiológico…

… aliás, sabiam que nos EUA e no Canadá não vendem soro fisiológico de garrafinha, como no Brasil? Eu descobri isso quando comprei o Sinugator em janeiro, nos EUA. Ele vem junto com 30 saquinhos de um pó (cloreto de sódio + bicarbonato de sódio) que você coloca em 240ml de água fervida ou filtrada e usa para lavar o nariz. Na América do Norte, você só encontra soro fisiológico em embalagens próprias para a limpeza ocular ou nasal como sprays.

Então levei soro em ampolas de 10ml para poder levar na mala de mão – precisei lavar o nariz da Fofinha minutos antes do embarque, para que ela não chorasse de dor de ouvido na decolagem.

Não precisamos mais de alimentação especial no avião, mas caso fosse necessário, a United orienta a solicitação 24 horas antes do vôo ou no momento da compra. Pessoas APLV teriam que solicitar a refeição vegana, pois não há opção sem leite e derivados especificamente (há para intolerantes ao glúten). Vi várias pessoas recebendo refeições especiais, sem erro pelos comissários de bordo.

Fizemos nossa primeira parada em Houston, TX, onde não tivemos que pegar nossas malas pra passar na imigração \o/ porque a United tem um acordo com o aeroporto de Houston para que as malas reembarquem direto pro destino final. Nas lojas e praça de alimentação locais, nada de extraordinário, como sempre, tinha uma Starbucks…

No vôo de Houston até Calgary, havia opção de menu especial, mas tudo pago a parte (sabe aquela história da Gol e da LATAM cobrarem as refeições? Pois é, aqui isso é uma realidade), somente as bebidas eram cortesia. Se não me engano, poucas opções (para não dizer nenhuma, tinha uma pipoca com sal marinho) para pessoas com alergias alimentares.

E ainda bem que levamos a bombinha na viagem… porque a primeira coisa que a Fofa fez assim que chegou foi tossir loucamente e ficar cansada.